AMORES CONTEMPORÂNEOS E SEUS IMPASSES...

Este livro pretende demonstrar a interlocução que existe entre um certo tipo de literatura que podemos chamar de "literatura de iniciação amorosa-sexual" e sua apropriação pela imprensa contemporânea. Trata-se de uma tentativa de estabelecer uma análise da literatura e da mídia para ponderar sobre os laços amorosos contemporâneos. A partir do tema central de obras literárias clássicas como Tristão e Isolda, Os sofrimentos do jovem Werther, As ligações perigosas, dentre outras, o amor será tomado como um referencial importante na formação das subjetividades dos séculos XX e XXI, embora a contemporaneidade nos reserve modos inéditos de amar. Partimos do pressuposto de que, dentre outras, a literatura exerceu a função de servir como uma espécie de manual e de gerenciador da vida em sociedade e que, na contemporaneidade, foi aos poucos sendo substituída pela mídia. Como se percebe, o discurso midiático possui uma interferência bastante significativa na vida atual, uma vez que ele fornece elementos imaginários com os quais o sujeito pode se identificar. Dessa maneira, no que diz respeito aos laços amorosos contemporâneos, nota-se que são inaugurados novos formatos para os laços afetivos, ao constatar a forma frágil e efêmera que as parcerias amorosas têm assumido. No entanto, como destaca Lacan, "Amar é dar o que não se tem", o que aponta para uma certa fragilidade dos relacionamentos amorosos contemporâneos, sendo estes marcados por certo dilema: a ânsia por uma relação sólida e a possibilidade de vivenciar a mobilidade nesses arranjos convivem lado a lado. Destaca-se que há, na contemporaneidade, uma depreciação da esfera amorosa, em que o amor foi degradado e reduzido à vontade de gozo o que, talvez, dificultaria as parcerias amorosas. A nosso ver, tais parcerias só são possíveis de serem sustentadas quando acontecem de um modo não-programado, de um modo subversivo, de um modo inventivo. Se o discurso contemporâneo tenta preencher todos os espaços vazios da existência, o amor e o desejo não podem surgir, pois o desejo - e no que tange à parceria, o amor - só pode advir lá onde a falta aparece. 



Cássio Eduardo Soares Miranda - Psicanalista
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